quarta-feira, 4 de julho de 2012

Em uma sociedade individualista como a nossa, muitos se perguntam se há sentido numa vocação religiosa que, essencialmente, coloca um ser humano a serviço de Deus e do próximo. O assunto merece reflexões nesta época em que poucos pais e mães lembram de colocar para os filhos a vida consagrada como opção de vida. Muitas vocações religiosas e sacerdotais, um chamado e um sinal do amor de Deus, se perdem por não serem cultivadas e incentivadas na intimidade das famílias. Vicktor Frankl, fundador da Logoterapia, nos diz: “A essência da existência humana radica na sua autotranscendência. Ser homem significa, de per si e sempre, dirigir-se e ordenar-se a algo ou a alguém: entregar-se o homem a uma obra a que se dedica, a um homem que ama, ou a Deus a quem serve”. Toda e qualquer vocação faz o homem ir além de si mesmo. Refere-se, portanto, à autotranscendência e evidencia um serviço a uma obra, a uma pessoa ou a Deus. Assim, podemos dizer que a vida consagrada é um sinal para o mundo atual do amor de Deus por todos os seres humanos. É um sinal também de que, somente indo além de si mesma, dedicando-se a algo, a alguém, a pessoa será feliz e realizada. A vocação religiosa nasce de um encontro, de uma experiência onde a pessoa sente profundamente o amor de Deus em sua vida. Esse encontro se dá de forma tão intensa que a pessoa passa a desejar uma vida de inteira dedicação a Deus. E deseja fazer com que outras pessoas vivam a mesma experiência, que leva a uma vida onde, de forma concreta, o amor divino é compartilhado com todos. A vida consagrada é o nome que a Igreja Católica dá ao modo de viver das pessoas que deixaram as suas vidas profissionais e familiares e seu próprio futuro no mundo para dedicar-se inteiramente a Deus, no serviço à Igreja, na evangelização, intercessão e promoção da dignidade humana. Esse serviço se dá através de um jeito próprio, ou seja, de acordo com o carisma de cada congregação ou entidade religiosa e de cada membro da mesma, como um modo próprio de ser e agir. É preciso salientar que, para uma adequada vivência dessa vocação, é necessária certa maturidade psicoafetiva, que permite à pessoa uma liberdade interior, tornando-a capaz de um amor propriamente “humano”, que assume e integra em nível espiritual o amor biológico e o psíquico. A pessoa madura afetivamente traz consigo algumas características, como tolerância à frustração, controle da ansiedade e insegurança, adaptabilidade, flexibilidade, capacidade de esperar, capacidade de sublimação, capacidade de dar e receber, aceitação dos próprios limites e fraquezas. Evidentemente, não se espera uma maturidade plena, mas minimamente necessária, para que, a partir dela, o indivíduo possa crescer numa vida de doação a Deus e aos irmãos. A pessoa que se sente chamada a uma vida religiosa precisa ter coragem de se questionar e perguntar ao próprio coração o que é deseja. Precisa olhar para dentro de si mesma e ver o que sente ao imaginar-se numa vida consagrada, para que possa verificar se se trata de uma vocação a uma vida de inteira dedicação, ou de um chamado a assumir sua religiosidade com mais intensidade. A partir dessas reflexões, é necessário que a pessoa procure conhecer instituições, comunidades, congregações com as quais se identifique e dê início a um processo de discernimento vocacional, com um acompanhamento espiritual adequado. O discernimento vocacional precisa ser feito com tranquilidade, sem pressa, pois se trata de uma decisão para toda uma vida. Como pessoa consagrada que sou, posso dizer para aqueles que se sentem inquietos que não tenham medo e ouçam no seu coração a voz que chama. Não tenham medo de se questionar, de procurar ajuda e acompanhamento espiritual adequado. Não tenham medo de deixar tudo, se este for a vocação, para uma vida de inteira doação e dedicação ao próximo. Posso dizer, com a minha humilde experiência, que Vicktor Frankl tinha razão ao dizer que o ser humano tem na sua essência a autotranscendência e que somente por meio dela encontra realização e felicidade.www.mscs.org.br

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